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sábado, 7 de agosto de 2010

Pimenta para aliviar a dor nos consultórios odontologicos

Composto ardido abre caminho para que o anestésico acabe com a sensação de dor
por Nikhil Swaminathan

Vai uma pimenta aí antes de começar? Pesquisadores descobriram que uma série de compostos do ingrediente ativo da pimenta malagueta, a capsaicina, pode servir como um anestésico local mais seletivo
A aplicação de um componente-chave da pimenta malagueta, ou chili, seguida por um anestésico local, pode representar o fim da dor na cadeira do dentista e na mesa de cirurgia, sem os efeitos colaterais potencialmente perigosos e o estado letárgico que vem depois de uma anestesia tradicional.

De acordo com um estudo da Harvard Medical School, publicado na revista “Nature” esta semana, uma combinação de capsaicina (o ingrediente responsável pelo ardor característico da pimenta) e QX-314, um derivado da lidocaína (anestésico local usado por dentistas e também para aliviar inflamações ou coceiras na pele) silencia com sucesso os neurônios sensíveis ao estímulo doloroso, sem perturbar outras células nervosas que controlam as funções motoras e outras sensações.

Sabe-se que o QX-14 reduz a atividade dos neurônios sensíveis ao estímulo doloroso no sistema nervoso e teoricamente aumenta a resistência à dor. Mas há um porém: os pesquisadores descobriram que “o QX-14 não funciona fora de um neurônio, apenas dentro dele”, reconhece Bruce Bean, professor de neurobiologia na Harvard Medical School e co-autor do estudo.

David Julius, professor de psicologia da University of California em San Francisco, descobriu recentemente que a capsaicina se liga seletivamente a uma proteína conhecida como TRPV1, localizada nas membranas dos neurônios sensíveis ao estímulo doloroso. Quando essa ligação acontece, a proteína abre um portão que leva a um pequeno canal na membrana do neurônio (as células nervosas que não contêm a TRPV1 não são afetadas). “O estudo inovou ao mostrar que a molécula de QX-314 talvez fosse pequena o bastante para entrar por esse canal”, afirma Bean.

Se isso realmente pudesse acontecer, os cientistas concluíram que injetar a capsaicina, seguida pelo QX-314, permitiria ao composto da pimenta abrir as portas desses neurônios sensíveis ao estímulo doloroso, liberando o caminho para o anestésico entrar e “desligar” essas células. Inicialmente, a equipe testou a teoria usando culturas de neurônios da medula de ratos, e descobriu que a atividade elétrica nos neurônios sensíveis ao estímulo doloroso apresentou declínio após injeções de capsaicina seguidas por QX-314. Isso indica que as células estariam fracas demais para mandar a mensagem da dor para o cérebro.
Então, os pesquisadores conduziram dois experimentos com os ratos. No primeiro, injetaram a capsaicina e o QX-314 nas patas de alguns dos animais, e então os colocaram sobre superfícies aquecidas até que sentissem dor. Todos os ratos que receberam as injeções ficaram anestesiados mesmo quando a superfície foi aquecida ao máximo. No segundo experimento, o coquetel foi administrado nos nervos ciáticos de alguns ratos do grupo de teste (o ciático é o nervo mais longo do corpo, e é responsável pela sensação nas costas e nas extremidades inferiores). Então, os animais foram “cutucados” com intensidades diferentes; metade do grupo nem ficou irritado, mesmo com o golpe mais forte.

Nenhum dos ratos que havia recebido o coquetel de capsaicina e QX-314 sofreu paralisia temporária – um efeito colateral potencial da anestesia tradicional –, o que indica que a combinação foi direcionada com sucesso somente para os neurônios sensíveis ao estímulo doloroso. Essa maior resistência à dor durou até quatro horas, de acordo com Bean.

David Julius (que não fez parte do estudo) achou a nova abordagem simples e inteligente, mas ressalta que a metodologia precisa ser adaptada antes de o coquetel seja usado em humanos. Um grande obstáculo a ser transposto, ele diz, é a natureza irritante da capsaicina, que causa ardor quando alguém a toca – e ainda mais quando a ingere. “Se o QX silenciar o nervo rápido o bastante depois que a capsaicina abrir o canal, então o coquetel poderia funcionar em alguns tipos de aplicações locais de anestésicos.”

Bean conta que Alexander Binshtok, co-autor do estudo em Harvard e pós-doutorando em plasticidade neuronal, já está trabalhando para tentar eliminar os efeitos negativos da capsaicina revertendo a ordem das injeções: o QX-314 vai primeiro, seguido rapidamente pela capsaicina para levá-lo para dentro da célula.

O ideal, diz Bean, é que os pesquisadores encontrem uma maneira de acabar com qualquer dor inicial antes que o método apimentado substitua injeções de novocaína e epidurais. Sua equipe também está buscando uma molécula similar à capsaicina “que abra os canais de TRPV1, mas sem um efeito tão irritante”.

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